quarta-feira, março 09, 2005

MACABRO / LA CASA CON LA SCALA NEL BUIO


MACABRO, de Lamberto Bava, 1980 [Itália]
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Após aprender os ossos do ofício como assistente de realização em quatro filmes do pai, Mario Bava - e ter trabalhado em «Inferno», de Dario Argento –, Lamberto estreia-se como realizador em 1980 com o habilidoso giallo «Macabro» («Macabre», no título inglês). É um relato de crime e paixão doentia carregado de implicações sexuais mais ou menos explícitas (a nudez abunda), supostamente baseado em factos verídicos. O argumento, assinado pelo próprio e por Pupi Avati, conta a história de uma mulher levada à loucura quando o amante perde a cabeça (literalmente) e a sua filha mata o próprio irmão! Dito assim parece uma anedota, mas o registo de horror funciona muito bem («Macabre» é o melhor filme de Bava, filho), cheio de interessantes subtextos – a cegueira do protagonista principal surge como uma imagem muito pouco liberal sobre a proibição do prazer -, mesmo (ou talvez por causa disso) se a violência gráfica não abunda como de costume. Curiosamente, Bava viria a afirmar odiar o sadismo misógino dos gialli (“eu só gosto de fantasia!”), adiantando que o simples vislumbre de uma navalha o fazia tremer que nem varas verdes.

LA CASA CON LA SCALA NEL BUIO, de Lamberto Bava, 1983 [Itália]
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E a palavra navalha consta mesmo no título americano do seu trabalho seguinte, «La Casa Con La Scala Nel Buio» (1983), mais conhecido como «A Blade in the Dark». Como o público achou que faltava violência a «Macabre», desta vez Bava esforçou-se para ultrapassar os medos e abusou do sangue. O filme acabou por ser criticado pela brutalidade excessiva, o que só contribuiu para que toda a gente corresse a vê-lo, e sofre da limitação do argumento: um jovem compositor é contratado para gravar a banda sonora de um filme de terror, e arrenda uma vivenda para se concentrar no trabalho. Quando uma série de raparigas o visitam numa sucessão de coincidências demasiado forçadas, os crimes começam. Quem será o assassino? Hum, não vale a pena perder muito tempo a pensar nisso - lógica é coisa que costuma escassear no género -, até porque há dois ou três momentos de imaginativo suspense que desviam a nossa atenção. Uma curiosidade: Michele Soavi, autor do prodigioso «Dellamorte, Dellamore», dá o ar da sua graça como actor num papel inesperado.

[Texto editado a partir do original publicado na revista DVD Review, número 29, Março de 2004.]

(Os dois filmes foram editados em conjunto no mercado norte-americano pela Anchor Bay, podendo também ser adquiridos separadamente. Como extras temos duas entrevistas a Lamberto Bava – uma por disco -, trailers e biografias. Comprei a edição dupla aqui.)