ANY WAY THE WIND BLOWS
de Tom Barman, 2003 [Bélgica]
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TRAILER / SITE OFICIAL
Antes de mais, e para começar pelo fim, «Any Way the Wind Blows», estreia de Tom Barman na longa-metragem, ultrapassa o estatuto de curiosidade para admiradores da obra do líder e vocalista da banda belga dEUS. Fale-se então de cinema: é um filme-caleidoscópio, repleto de personagens bizarras e histórias paralelas que se entrecruzam inevitavelmente, mesmo que sem consequências narrativas. Um pouco como se fosse apontada uma câmara a um microcosmos humano de uma cidade moderna (Antuérpia), disparando a acção sem pré-avisos e tratando a noção de momento com a fugacidade e inconexão que lhe são intrínsecas. O que surpreende é que, numa fita sem clímaxes nem atropelos emocionais, apostada num realismo sem rédeas, haja uma urgência criativa tão capaz de tocar o espectador. Filme conceptual, radical e melodioso, «Any Way the Wind Blows» (e regressemos à música) roça também o cinema fantástico e parece um espelho da estética revelada nas canções dos dEUS. E, aprecie-se ou não uma certa tendência para o narcisismo de Barman, que acaba por fazer um filme sobre si próprio, citando influências (há Herbie Hancock, Charles Mingus e Squarepusher na banda sonora) e revelando projectos paralelos (Evil Superstars, Magnus), o que é certo é que a fita acaba por funcionar fora do circuito de referências indie que convoca.
[Texto editado a partir do original publicado na revista DIF, número 30, Julho de 2005.]
(O DVD nacional é da New Age e recomenda-se, ainda para mais quando parece ser uma das poucas edições do filme de Barman a nível mundial. Vejam-no aqui.)