UM NATAL DOS DIABOS
A quadra assim o obriga. Pinheiro enfeitado na sala-de-estar, iluminações nas avenidas, filmes natalícios inundando as televisões nacionais. Menos vulgar será encontrarmos fulanos vestidos de Pai Natal a empunhar enormes machados, serial-killers descendo pelas chaminés ou crianças atormentadas por brinquedos diabólicos. Mas são situações que existem num subgénero derivado da primeira vaga de slasher movies em finais de 70, quando todos os psicopatas surgiam disfarçados com fatiotas cada vez mais rebuscadas. E assim, da máscara de hóquei à barba branca e capuz vermelho foi um instantinho.
Em 1973, um pequeno filme underground deu o mote. Chamou-se «Silent Night, Bloody Night», tinha um elenco recheado de estrelas saídas da Factory de Warhol - Mary Woronov, Candy Darling e Ondine -, e, se referências sobre a sua influência soam algo exageradas (afinal, uma obra tão low-budget nunca poderia ter chegado a tanta gente assim), o que é certo é que nele surgem inúmeras ideias que viriam a tornar-se obrigatórias no universo slasher: o louco que foge do asilo com sede de vingança, chamadas telefónicas misteriosas e o enquadramento do horror numa qualquer época festiva.
Sete anos depois, «Terror in Toyland», lançado em DVD como «Christmas Evil» (na imagem), apresenta o primeiro Pai Natal de tendências homicidas e, em 1984, estreia «Silent Night, Deadly Night» (nenhuma relação com o título lá de cima), ainda hoje o mais popular de todos os horrores natalícios. Longe de recomendável, deu origem a quatro sequelas de interesse variável: a terceira parte traz a curiosidade de vir assinada por Monte Hellman (aprendiz de Roger Corman e autor dos óptimos «The Shooting» e «Cockfighter»), a quarta e a mais divertida é assinada pelo mestre gore Brian Yuzna, e o quinto volume resultou na estreia por trás das câmaras de Martin Krissoter, argumentista de vários episódios de «Friday the 13th», que contou aqui com a presença de Mickey Rooney (!) como vilão de serviço. Todos as sequelas parecem estar indisponíveis no mercado DVD.
Ainda de acordo com o espírito da época, vale a pena espreitar «Santa Claws» (1996), de John A. Russo (o mesmo que escreveu «Night of the Living Dead» para Romero), «Don't Open Till Christmas» (1984), modesto série B realizado pelo veterano actor britânico Edmund Purdom, e, finalmente, o bem bom «Black Christmas» (ver texto aqui.)
[Texto editado a partir do original publicado na revista DVD Review, número 26, Dezembro de 2003.]