quarta-feira, março 01, 2006

KONGA


de John Lemont, 1961 [EUA/GB]
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Peter Jackson afirmou que o maior problema com que se debateu ao rodar o seu «King Kong» foi tentar igualar os méritos da fita original de Cooper e Shoedsack, e fazer com que o remake de 1976 fosse um passo em falso rapidamente esquecido. O que Jackson resolveu ignorar foi que, para além destes dois títulos, houve dezenas e dezenas de outras fitas inspiradas no primeiro Kong, desde sequelas oficiais a outras menos legítimas, spin-offs e rip-offs assumidos, enfim, uma macacada pegada que ao longo do século foi recheando os cofres de todo o tipo de produtores. Se ainda podemos encontrar validade artística nos projectos oportunistas de Shoedsack («The Song of Kong», de 1933, e «Mighty Joe Young», de 1949) e entretenimento garantido nas visitas do gorila ao Japão para combater um seu rival («King Kong vs. Godzilla», 1962), que dizer das inúmeras cópias da velha história em versão B ou exploitation? «Gorilla at Large», «Black Zoo», «King Kong Escapes», «The Mighty Yorga», «Ape», «Queen Kong», «Mighty Peking Man» e «King Kong Lives» são apenas os exemplos mais populares desta cabazada símia que esgotou o filão até Jackson ter achado que ainda valia a pena mais uma investida.
Isto tudo para chegarmos à recente edição em DVD região 1 de «Konga», uma variação british feita em 1961, aqui com um botânico louco (Michael Gough, que muitos reconhecerão como o Alfred do «Batman» de Tim Burton) que traz de África um pequeno chimpanzé e o segredo para fazer aumentar desemesuradamente qualquer organismo. Já se sabe o que daqui vai sair, sendo que desta vez o bicho vai atacar a cidade de Londres, e que há muito pouco talento envolvido, pelo que dificilmente será fita recomendável a quem jura pelo CGI da nova versão. Mas quem aprecia uma boa comédia involuntária para ver de copo na mão com os amigos vai delirar com os diálogos alucinados, o fato-macaco do "monstro", as incoerências científicas, as plantas carnívoras de papelão e o final "épico" feito com a destruição (em elipse orçamental) da cidade.


[Texto editado a partir do original publicado na revista DIF, número 37, Março de 2006.]

(Edição região 1 da MGM, com trailer e legendas em inglês, aqui.)