terça-feira, setembro 11, 2007

FREEZE FRAME


de John Simpson, 2004 [Irlanda/Inglaterra]
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Como separar realidade da ficção num mundo dominado pelas imagens? Melhor: Como continuar a reconhecer o real quando deixam de haver imagens para o documentar? A premissa de «Freeze Frame», obra de estreia de John Simpson nomeada para melhor Filme na Secção Oficial de Cinema Fantástico do Fantasporto 2005, é intrigante. Um homem, suspeito de um crime por resolver, passa a filmar todos os segundos do seu dia-a-dia para documentar a sua inocência em caso de uma segunda acusação. Mas um dia, quando a polícia bate de novo à sua porta, descobre que as filmagens que o poderiam ilibar desapareceram. É toda a paranóia do pós-11 de Setembro a vir ao de cima, num universo orwelliano onde a CCTV passa de controlo de segurança a instigadora de comportamentos e obsessões, filmada como um noir em regime hi-tech. Pena que, uma vez explicadas as costuras da ideia central, a fita resolva desembaraçar-se da carga simbólica e atirar-se de cabeça para o terreno do thriller previsível, repleto de twists e soluções pouco credíveis. É caso para o interesse do espectador ficar perdido algures pelo caminho, mas uma ideia brilhante vai agarrando até ao fim: Lee Evans, actor britânico de cara expressionista, mais dado a comédias de Hollywood («Mousehunt», «There’s Something About Mary»), surge de cabeça rapada e olhar sombrio e penetrante, sublinhando o vampirismo das imagens tal como descrito no filme e remetendo para um Nosferatu da era digital, não por acaso um dos ícones mais antigos das imagens em movimento no século XX.

[Texto editado a partir do original publicado na revista DIF, núm. 51, Setembro 2007.]


(Prisvídeo. Vários miniclips de cenas cortadas e bastidores de rodagem atiradas para o que parece ser um labirinto de um arquivo desorganizado. Tem tudo a ver com o tema do filme, mas só torna o visionamento dos extras mais cansativo quando o conteúdo dos pequenos filmes já de si não tem grande interesse. Óptima edição nacional, de resto.)