THE DEAD ZONE
de David Cronenberg, 1983 [EUA]
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David Cronenberg e Stephen King. Um casamento feito no céu? «Dead Zone», fita de 1983 que visava explorar o filão de êxitos baseados em obras de King, é inferior à soma das partes, mas apenas porque essas partes são tão enormes. Nele se conta a história de um professor que, ao acordar de um estado de coma que durou cinco anos, descobre possuir o dom de prever o futuro de determinada pessoa apenas por lhe segurar a mão. É um conto sobre a fragilidade do corpo humano (tema tão caro a Cronenberg), aliado à fantasia moral de King, e tem em Christopher Walken um magnífico protagonista, aqui num dos seus mais memoráveis papéis. Se, por um lado, «Dead Zone» marca uma importante fase de transição na carreira do autor de «Dead Ringers», ao abdicar temporariamente do gore das fitas inicias (estamos muito longe dos delirantes corpos mutantes de «Shivers» e «Videodrome») e abrir caminho para futuros trabalhos mais "sérios" («Crash», «Spider»), é, no entanto, um trabalho algo desequilibrado, resultado de um argumento com certos problemas estruturais. A fita vai narrando pequenas aventuras do seu herói e avança com duas histórias perfeitamente distintas, que parecem dividir os seus 100 minutos em diferentes episódios e aproximam o trabalho do formato televisivo (não é por acaso que alguém se lembrou de o adaptar a uma série de TV). Mas o impacto emocional é garantido, em grande parte devido à interpretação de Walken, mas principalmente pela abordagem realista de Cronenberg, que filma da forma mais natural possível a intromissão do fantástico no dia-a-dia. Uma curiosidade: antes de sofrer o acidente, o professor desta Zona de Perigo (título nacional) dá a ler aos seus alunos «The Legend of Sleepy Hollow», de Washington Irving. Dezasseis anos depois, no filme de Tim Burton, Christopher Walken reaparece já transfigurado no próprio cavaleiro sem cabeça. Ou quando a fantasia tomou finalmente conta da vida real.
[Texto editado a partir do original publicado na revista DVD Review, número 34, Agosto de 2004.]
(Em alternativa à edição nacional da Lusomundo, há também esta, britânica, sem extras nem legendas, e esta, região 1, com um trailer e legendas em inglês.)