segunda-feira, setembro 12, 2005

BIZARRE (SECRETS OF SEX)


de Antony Balch, 1970 [GB]
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Não é tradicional que um DVD valha essencialmente pelos extras, mas este é um desses casos em que o formato demonstra como pode assumir função privilegiada na divulgação de material audiovisual que doutra forma dificilmente sairia dos cofres de museus e cinematecas. É que a edição de «Bizarre», fita de Antony Balch, oferece como complemento duas raríssimas curtas-metragens do realizador em colaboração com o amigo William S. Burroughs. Chamam-se «Towers Open Fire» (1963) e «The Cut Ups» (1966) e são, como o título da última indica, a extensão cinematográfica da técnica literária do escritor, levando o radicalismo das suas experiências a um novo grau de hipnose que junta uma voz-off repetitiva a uma montagem rápida onde se sucedem grandes planos de Burroughs, imagens de Nova Iorque, action painting e homoerotismo. São duas peças de arte extremas, que julgam o cinema como companheiro inevitável da literatura e da pintura, e, consequentemente, como reflexo dos movimentos de vanguarda seus contemporâneos. Já «Bizarre» (ou «The Story of Sex», o seu título oficial, encoberto para evitar confusões com outro tipo de cinema), a longa-metragem que ocupa o lugar nobre deste DVD, envereda pelo lado mais lúdico do experimentalismo e conta várias histórias, em forma de vinhetas rápidas, sobre a guerra dos sexos. Há nudez em abundância, assumindo-se desavergonhadamente como exemplo arty da sexploitation, mas também uma entrada descabelada pelo fantástico, ao aparecer uma múmia como o narrador que faz a ligação entre os vários segmentos. Como se Warhol produzisse um argumento de Buñuel e entregasse a realização a Mario Bava e Kenneth Anger, é cinema de género (terror, comédia soft-core) em choque frontal com a sensibilidade excêntrica de Antony Balch, sempre disposto a derrubar barreiras e preconceitos sobre o que é, ou deve ser, um objecto artístico. «Bizarre»? Isso seria um understatement.

[Texto editado a partir do original publicado na revista DIF, número 31, Setembro de 2005.]

(Como atrás se disse, a edição região 1 da Synpase Films é imperdível. Vejam-na, por exemplo, aqui. A minha veio do eBay por menos de metade do preço.)