quarta-feira, março 29, 2006

REPO MAN


de Alex Cox, 1984 [EUA]
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TRAILER
O nome de Alex Cox ficará para sempre ligado ao biopic «Sid and Nancy» (1986) e ao gigantesco flop «Straight To Hell» (1987), que se não lhe arruinou a carreira - Cox continua a filmar com regularidade, tendo realizado pelo menos mais cinco títulos até 2002 -, lhe retirou definitivamente o estatuto de jovem autor protegido pela crítica mais "séria". (...) Um facto curioso é que Cox, antes de se estrear nas lides cinematográficas, foi forçado a sobreviver alguns anos através de empregos mais ou menos legais, um dos quais o de confiscador de automóveis a pessoas que não pagavam as suas dívidas. E foi esse nível de experiência nas ruas que o atirou de cabeça para a sua primeira longa-metragem: «Repo Man» («O Clandestino», no título nacional). (...)
Esperemos que este texto sirva de aperitivo para aquele que é um dos filmes mais singulares, hilariantes e furiosos dos anos 80: o punk rocker Otto (Emilio Estevez), desiludido com o emprego, namorada e família, acaba por se envolver com um bando de repo men (os tais senhores confiscadores) para ganhar uns tostões e orientação espiritual. Isto é só uma desculpa para a catrefada de desvairadas sequências que vão preencher todo o filme, juntando agentes do Governo, extraterrestres, hippies filósofos, cientistas lobotomizados, assassinos "chicanos" e hordas de punks assaltantes de farmácias. O ritmo é frenético, os diálogos uma pequena maravilha (espectadores modernos e distraídos reconhecerão o "estilo Tarantino" e a vertente mais humorística dos irmãos Coen), e os actores dão um verdadeiro festival de carisma. «Repo Man» tem ainda para oferecer uma clássica banda sonora punk-new-wave-mariachi-hardcore, com o tema título composto propositadamente por Iggy Pop e ainda uma série de temas de Black Flag, The Plugz e Circle Jerks.



[Texto editado a partir do original publicado na revista DVD Review, número 29, Março de 2004, com o título "Otto é um punk rocker!".]

(A edição que serviu este texto é da Universal e não tem extras. A mesma sorte calhou à versão britânica, mas muito melhor está a "collector's edition" americana, com comentário áudio, entrevista e cenas inéditas.)