segunda-feira, setembro 17, 2007

JAMÓN, JAMÓN


de Bigas Luna, 1992 [Espanha]
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Comecemos pelo fim. «Jamón, Jamón» é o melhor filme de Bigas Luna. Parte inicial do que ficou conhecido como a sua Trilogia Ibérica (completada com «Huevos de Oro» e «La Teta y la Luna»), foi aqui que o autor de «Caniche» resolveu mergulhar sem problemas de consciência na comédia desbragada, cruzando quadros de sátira social camp – aparentados de Almodóvar – com uma sexualidade desenfreada que goza à grande e à espanhola com os estereótipos latinos e se veste de símbolos histéricos. Há quem odeie por isso mesmo, mas é esse mau gosto assumido, aliado a uma sensibilidade pela beleza do grotesco, que faz a frescura do cinema de Bigas Luna. «Jamón, Jamón» conta uma história telenovelesca de amores cruzados, com final em jeito de tragédia grega e tudo. Há imagens de presuntos “erectos”, uma marca de roupa interior masculina chamada Sansón e a figura de um touro castrado sempre presente no horizonte, feito figura divina e paternal. Curiosidade adicional para o espectador actual e distraído: Penélope Cruz e Javier Bardem, ambos em início de carreira, são dois dos corpos entregues ao desejo carnal e alimentar, largamente expostos ao longo da fita. Mas há ainda Stefania Sandrelli, como a matriarca de apetite devorador que mete a acção a rolar, e a interpretação de uma vida do leitão Pablito. É cinema caliente de teor gastronómico e consumo exclusivo para apreciadores de fartas comezainas. Tenham os sais de fruta efervescentes à mão, mas não deixem de o provar.

[Texto editado a partir do original publicado na revista DIF, núm. 51, Setembro 2007.]



(Lançamento nacional pela Prisvídeo com o título «Desejos Inconscientes». Como extras, apenas os trailers da colecção dedicada a Bigas Luna de que esta edição faz parte. Além de «Jamón Jamón», há «Las Edades de Lulu» e «Huevos de Oro».)