THE HITCHER
de Robert Harmon, 1986 [EUA]
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TRAILER
Se, com uma das minhas mãos, indicasse os cinco filmes essenciais do fantástico dos anos 80, a «The Hitcher» corresponderia certamente o dedo do meio. Sob a fachada de thriller macho com doses imensas de acção muitíssimo bem conduzida, escondia-se uma bizarra história de amor entre dois homens, um diabólico assassino de contornos freudianos e o rapaz que teve a pouca sorte de lhe dar boleia. O "hitcher" do título é interpretado por Rutger Hauer, que surge como uma força imaterial - parece ter o poder de aparecer em vários sítios ao mesmo tempo e onde menos se espera - e encontra finalmente no jovem interpretado por C. Thomas Howell um adversário à altura. Ele quer que alguém o trave, vai dando consecutivas oportunidades ao moço para o fazer, até que este perceba que só ele pode acabar com o rasto de sangue. Pelo caminho, há uma série de encontros de descarado homoerotismo (a preliminar faca nos testículos, o quase-beijo no café e, para que não restassem dúvidas, a cuspidela na cara numa das cenas finais), uma personagem feminina que parece não ter outra função que a de sublinhar a relação entre os dois elementos masculinos, e muitas doses de adrenalina e carros a explodir para que o espectador médio americano não reparasse em tudo isto. O estreante Robert Harmon dirigiu com garra, mas os créditos têm que ir inteirinhos para o argumento Eric Red, então um novato apostado em subverter géneros. Um ano depois, em «Near Dark», Red faria o mesmo com o filme de vampiros, transformando a demanda de pescoços numa viagem existencialista pelo deserto americano. «The Hitcher» é sangue, suor, sémen e terra batida, e tivesse este texto um título, esse seria «Amar-te-ei até me matares».
[Texto editado a partir do original publicado na revista DVD Review, número 28, Fevereiro de 2004.]
(A edição lançada em 2004 pela Universal é de aquisição obrigatória: 2 discos cheios de extras, entre os quais a muito boa curta de estreia de Harmon, com o mesmo Charles Napier dos filmes de Russ Meyer. Pode ser que ainda a apanhem. Caso contrário, a edição britânica é muito semelhante. Vejam-na aqui.)