CHAOS
de Nakata Hideo [Japão, 1999]
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Na mesma altura em que ganhava fama internacional com «Ring» (1998) e sua sequela (1999), Nakata Hideo dirigiu dois títulos sem pontos de contacto com o horror, e que revelam a flexibilidade do realizador, bem como a sua capacidade de lidar com géneros diversos: «Sleeping Bride» (2000), um melodrama romântico com um casal de adolescentes, e este «Chaos» (ou «Kaosu», na romanização da fonética original), uma investida, muito bem sucedida, pelo campo do thriller hitchcockiano.
Com este material nas mãos — uma narrativa que se torna cada vez mais densa e plena de reviravoltas — era fácil cair no exibicionismo gratuito e na “esperteza”. Ao invés, temos um texto sólido e contido, com uma estrutura de flashbacks bem gerida, permitindo dosear revelações e compor gradualmente as personagens. Apesar da narrativa fragmentada e das elipses abundantes, que nos deixam aquém do conhecimento profundo da personagem feminina central, sentimos a sua complexidade emocional à flor da pele. Tal resulta da direcção de Nakata, mas também do talento da actriz Nakatani Miki — galardoada com o prémio de Melhor Actriz, por «Memories of Natsuko», nos primeiros Asian Film Awards (2007),
O que começa com o rapto da mulher de um cidadão respeitável, adensa-se, por via de confusão de identidades e de motivações veladas. Surpreendente equilíbrio entre a complexidade da narrativa e a sobriedade da direcção; Nakata não se passa por genial nem faz o público de idiota.
(O DVD R3 sul-coreano visionado tem um preço acessível e contém algum material de bastidores, legendado apenas em coreano. Também disponível no Reino Unido e nos EUA.)
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