FAR FROM HEAVEN
de Todd Haynes, 2002 [EUA]
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TRAILER
(...) Todd Haynes, experimentador por excelência, convoca aqui uma recente tendência revisionista para com os clássicos norte-americanos, entrando num jogo cujas referências já haviam sido explicadas em «Psycho», de Gus Van Sant. Ao contar esta história de uma mulher - Julianne Moore, lindíssima, como o ser mais solitário do planeta? - abandonada pelo marido e perdida de amores pelo jardineiro, o autor de «Safe» está a refazer «All That Heaven Allows» e «Imitation of Life», de Douglas Sirk, apenas para levantar uma série de interrogações sobre os códigos do melodrama clássico e a sua viabilidade no actual contexto cinematográfico. Mimando ao mais invisível pormenor a estética do modelo - Sirk, mas também Max Ophuls -, Haynes nunca se deixa prender na armadilha da revisitação nostálgica, antes usando uma subtil ironia ("Por um breve instante pode ver para lá da superfície", diz uma das personagens) que passou ao lado de muita da crítica nacional à data de estreia do filme. «Far From Heaven» não pretende ser uma denúncia ao racismo e à homofobia de uma época plastificada e vincadamente cruel, muito menos uma reflexão actual sobre esses assuntos. É apenas uma obra que se entrega de coração na boca aos delírios formais de um género há muito extinto, pegando em personagens que viveram há seis décadas atrás para lhes dar uma nova - mesmo que breve - visão da felicidade.
[Texto editado a partir do original publicado na revista DVD Review, número 26, Dezembro de 2003.]
(Comprei a edição norte-americana alguns meses antes de ser lançada a versão nacional, através da Prisvídeo [título português: «Longe do Paraíso»]. Quem preferir, pode também optar pela edição britânica. Todas têm os mesmos conteúdos adicionais - e são muitos -, apenas diferindo a questão das legendas, pelo que tudo se resumirá a uma questão de ver qual é a mais barata. De momento, a inglesa é imbatível aqui.)